quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Série fotográfica mostra objetos que famílias de refugiados escolhem levar no momento da fuga

Débora Spitzcovsky 19 de junho de 2013


Magbola Alhadi, de 20 anos, e seus três filhos passaram meses convivendo com bombardeios aéreos na Vila de Bofe, onde viviam, no Sudão do Sul. Em agosto de 2012, soldados invadiram o local atirando contra a casa da família, que fugiu levando uma panela. Segundo Alhadi, o objeto era pequeno o suficiente para carregar na viagem de 12 dias rumo ao campo de refugiados e grande o bastante para cozinhar para toda a família.

Se, não mais que de repente, sua casa fosse bombardeada ou queimada e sua família tivesse, apenas, um minuto para sair dali com vida, o que você levaria com você? Algo para ajudá-lo a sobreviver? Um objeto de valor sentimental? Difícil decidir? Campanha da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) mostra que para mais de 45 milhões de pessoas ao redor do mundo, essa situação não é uma suposição, mas sim uma (triste) realidade.

A série fotográfica A Coisa Mais Importante revela, a partir de imagens e depoimentos, a difícil decisão tomada por famílias que vivem em zonas de guerra e perseguição – ou mesmo em áreas ameaçadas pelas mudanças climáticas – e, de uma hora para outra, são obrigadas a deixar para trás toda a sua história em nome da sobrevivência.

A iniciativa faz parte da campanha global Uma Família, lançada pela ACNUR em homenagem ao Dia Mundial dos Refugiados, comemorado em 20/06. A ideia é dar cara às vítimas das guerras que acontecem mundo afora, mostrando que, muito mais do que números divulgados pela imprensa, essas pessoas são pais, mães e filhos que vivem o drama de ter suas famílias destruídas em segundos.

Confira, abaixo, algumas das fotos que fazem parte da série A Coisa Mais Importante. As imagens estão reunidas em uma página do Pinterest, em que os internautas também podem postar fotos com os objetos que escolheriam levar em um momento de fuga.

Ambia e o marido, Mahmud, precisaram fugir com os filhos e pais quando a cidade onde viviam, em Mianmar, foi atacada e a casa deles, queimada. O objeto mais importante que puderam carregar foi um pote com folhas de uma noz típica, que têm o hábito de mascar. Eles não sabiam quando comeriam novamente e mastigar as folhas ajudou a família a não definhar de fome.

Juan e sua filha fugiram para o Brasil, em 2006, por conta de perseguições de grupos armados irregulares na Colômbia. O refugiado trouxe com ele o livro “O Poder do Pensamento Tenaz”, dado por sua mãe, que traz dicas de como se libertar do medo e da dor. “Sempre que leio esse livro, lembro-me da minha mãe e isso me dá forças para continuar”, conta Juan.

Leila fugiu da Síria e hoje vive com os seis filhos em um apartamento abandonado em Atenas, na Grécia. O objeto que pegou no momento da fuga foi um álbum de fotografias, para lembrar dos tempos felizes que viveu ao lado de seu marido, que desapareceu durante um conflito na Síria. “Para mim, deixar meu país foi a morte’, desabafa.

Msafiri Tawimbi deixou a República Democrática do Congo com sua família em 1996. Antes de chegar a Tanzânia, onde se refugiariam, eles caíram na emboscada de um grupo de soldados. Sua esposa foi morta e sua filha de dois anos ficou gravemente ferida. O objeto que restou desse episódio foi uma camiseta rasgada, que usava durante a fuga. “Ela me lembra de tudo o que minha família passou”, diz.

Mohamed e Reena foram torturados na Síria e deixaram o país com os filhos depois que combatentes incendiaram sua casa. O único objeto que conseguiram salvar foi um telefone celular com fotos da família. Hoje, eles moram na Bulgária, onde Mohamed quer abrir um restaurante para oferecer um futuro melhor para os filhos.

A colombiana Luisa mora no Brasil com sua mãe há seis anos. Quando teve que deixar seu país, trouxe várias roupas que considerava importantes. “Cuido muito bem delas até hoje, porque são o espelho do que eu sou”, diz a menina, que terminou o Ensino Médio e quer fazer faculdade.

John Kisingi fugiu com a família para a Zâmbia em 2000. O objeto que eles trouxeram foi uma bicicleta. “No momento da fuga de Angola, eu tinha um ferimento à bala. A bike me ajudou a carregar algumas panelas e pratos”, conta o refugiado, que atualmente usa a magrela para levar o que produz no campo a um mercado.

Sebadiri Mbarushimana e sua família fugiram de forças rebeldes que incendiaram sua casa na República Democrática do Congo. Eles levaram esta camisa e algumas outras peças de roupa que os matinha aquecidos durante a noite e os protegia dos espinhos, quando caminhavam no meio do mato, rumo a um assentamento de refugiados em Uganda, onde vivem atualmente.




Ficou sensibilizado com as imagens? Com o slogan “Em um minuto uma família pode perder tudo”, a ONU convida a população mundial a gastar 60 segundos para fazer uma doação aos refugiados – o Brasil abriga mais de 4.700, de acordo com o Ministério da Justiça. As doações podem ser feitas no site da campanha Uma Família, que ainda possui um contador que revela o número de pessoas que se tornaram refugiadas desde o momento em que o internauta acessou a página – são cerca de duas famílias por minuto.


Fotos: ACNUR












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