Débora
Spitzcovsky 19 de junho de 2013
Magbola Alhadi, de 20 anos,
e seus três filhos passaram meses convivendo com bombardeios aéreos na Vila de
Bofe, onde viviam, no Sudão do Sul. Em agosto de 2012, soldados invadiram o
local atirando contra a casa da família, que fugiu levando uma panela. Segundo
Alhadi, o objeto era pequeno o suficiente para carregar na viagem de 12 dias
rumo ao campo de refugiados e grande o bastante para cozinhar para toda a
família.
Se, não mais que de repente,
sua casa fosse bombardeada ou queimada e sua família tivesse, apenas, um minuto
para sair dali com vida, o que você levaria com você? Algo para ajudá-lo a
sobreviver? Um objeto de valor sentimental? Difícil decidir? Campanha da
Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) mostra que para mais de 45 milhões de
pessoas ao redor do mundo, essa situação não é uma suposição, mas sim uma
(triste) realidade.
A série fotográfica A Coisa
Mais Importante revela, a partir de imagens e depoimentos, a difícil decisão
tomada por famílias que vivem em zonas de guerra e perseguição – ou mesmo em
áreas ameaçadas pelas mudanças climáticas – e, de uma hora para outra, são
obrigadas a deixar para trás toda a sua história em nome da sobrevivência.
A iniciativa faz parte da
campanha global Uma Família, lançada pela ACNUR em homenagem ao Dia Mundial dos
Refugiados, comemorado em 20/06. A ideia é dar cara às vítimas das guerras que
acontecem mundo afora, mostrando que, muito mais do que números divulgados pela
imprensa, essas pessoas são pais, mães e filhos que vivem o drama de ter suas
famílias destruídas em segundos.
Confira, abaixo, algumas das
fotos que fazem parte da série A Coisa Mais Importante. As imagens estão
reunidas em uma página do Pinterest, em que os internautas também podem postar
fotos com os objetos que escolheriam levar em um momento de fuga.
Ambia e o marido, Mahmud,
precisaram fugir com os filhos e pais quando a cidade onde viviam, em Mianmar,
foi atacada e a casa deles, queimada. O objeto mais importante que puderam
carregar foi um pote com folhas de uma noz típica, que têm o hábito de mascar.
Eles não sabiam quando comeriam novamente e mastigar as folhas ajudou a família
a não definhar de fome.
Juan e sua filha fugiram
para o Brasil, em 2006, por conta de perseguições de grupos armados irregulares
na Colômbia. O refugiado trouxe com ele o livro “O Poder do Pensamento Tenaz”,
dado por sua mãe, que traz dicas de como se libertar do medo e da dor. “Sempre
que leio esse livro, lembro-me da minha mãe e isso me dá forças para
continuar”, conta Juan.
Leila fugiu da Síria e hoje
vive com os seis filhos em um apartamento abandonado em Atenas, na Grécia. O
objeto que pegou no momento da fuga foi um álbum de fotografias, para lembrar
dos tempos felizes que viveu ao lado de seu marido, que desapareceu durante um
conflito na Síria. “Para mim, deixar meu país foi a morte’, desabafa.
Msafiri Tawimbi deixou a
República Democrática do Congo com sua família em 1996. Antes de chegar a
Tanzânia, onde se refugiariam, eles caíram na emboscada de um grupo de soldados.
Sua esposa foi morta e sua filha de dois anos ficou gravemente ferida. O objeto
que restou desse episódio foi uma camiseta rasgada, que usava durante a fuga.
“Ela me lembra de tudo o que minha família passou”, diz.
Mohamed e Reena foram
torturados na Síria e deixaram o país com os filhos depois que combatentes
incendiaram sua casa. O único objeto que conseguiram salvar foi um telefone
celular com fotos da família. Hoje, eles moram na Bulgária, onde Mohamed quer
abrir um restaurante para oferecer um futuro melhor para os filhos.
A colombiana Luisa mora no
Brasil com sua mãe há seis anos. Quando teve que deixar seu país, trouxe várias
roupas que considerava importantes. “Cuido muito bem delas até hoje, porque são
o espelho do que eu sou”, diz a menina, que terminou o Ensino Médio e quer
fazer faculdade.
John Kisingi fugiu com a
família para a Zâmbia em 2000. O objeto que eles trouxeram foi uma bicicleta.
“No momento da fuga de Angola, eu tinha um ferimento à bala. A bike me ajudou a
carregar algumas panelas e pratos”, conta o refugiado, que atualmente usa a
magrela para levar o que produz no campo a um mercado.
Sebadiri Mbarushimana e sua
família fugiram de forças rebeldes que incendiaram sua casa na República
Democrática do Congo. Eles levaram esta camisa e algumas outras peças de roupa
que os matinha aquecidos durante a noite e os protegia dos espinhos, quando caminhavam
no meio do mato, rumo a um assentamento de refugiados em Uganda, onde vivem
atualmente.
Ficou sensibilizado com as
imagens? Com o slogan “Em um minuto uma família pode perder tudo”, a ONU
convida a população mundial a gastar 60 segundos para fazer uma doação aos
refugiados – o Brasil abriga mais de 4.700, de acordo com o Ministério da Justiça.
As doações podem ser feitas no site da campanha Uma Família, que ainda possui
um contador que revela o número de pessoas que se tornaram refugiadas desde o
momento em que o internauta acessou a página – são cerca de duas famílias por
minuto.
Fotos: ACNUR
Fonte: Revista Super Interessante <http://super.abril.com.br/blogs/planeta/serie-fotografica-mostra-objetos-que-familias-de-refugiados-escolhem-levar-no-momento-da-fuga/?utm_source=+redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=+redesabril_super>
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