segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

DEFESA CIVIL : Do drama pessoal à ação política


Conheça a trajetória da agricultora que perdeu 14 familiares na tragédia de novembro de 2008 e hoje coordena a Defesa Civil de Ilhota.







Com os braços apertados em torno da filha Maria Isabel, de apenas um ano, que dormia em seu colo um sono tranqüilo, a agricultura Tatiana Reichert temia o pior naquela madrugada de 24 de novembro de 2008. Moradora do Braço do Baú, em Ilhota, epicentro da maior tragédia climática do Vale do Itajaí, onde morreram 47 pessoas, ela tinha pouca esperança de amanhecer viva. A chuva não parava. Ao redor da casa, lama e pedra desciam do morro, tornando impossível sair. Não tinha noção do que estava acontecendo, sabia apenas que chovia muito.


Ela e a menina sobreviveram. Daquela noite e das outras 75 em que teve que dormir fora de casa, ficou a dor e a lembrança. Ao resgatar na memória o que passou Tatiana não consegue conter o choro: ela perdeu 14 familiares, entre eles, a mãe e a irmã. Precisou ser forte para tornar-se uma líder dentro da família e amparar a todos. A mesma força que a tornou líder comunitária, passando a representar as angústias e demandas dos cerca de 3 mil moradores do Complexo do Baú. Mas desafio maior Tatiana assumiu há cerca de um mês, ao ser nomeada coordenadora da Defesa Civil de Ilhota.


Embora tenha apenas o Ensino Médio e sem qualquer formação na área, ela pretende levar sua experiência de vida ao Executivo e mostrar o que pode ser feito para mudar a situação das pessoas em momentos de dor e perdas.


– Eu estive do outro lado, sei a angústia. Sei que, naquele momento, em 2008, faltou parceria entre poder público e comunidade – disse, para justificar porque aceitou o convite.

Antes de assumir o cargo, em 2009, quando presidiu a Associação dos Desabrigados e Atingidos da Região dos Baús (Adarb), ela já conhecia as deficiências da Defesa Civil do município. No período de transição de governo, Tatiana comprovou o que já sabia.


– Em novembro de 2008, tive que começar a vida praticamente do zero. E é assim que comecei na Defesa Civil – conta a coordenadora, referindo-se à precariedade do órgão.


Desde que foi criada, em março de 2010, a Defesa Civil de Ilhota carece de investimento. Mas a situação que Tatiana encontrou ao tomar posse foi ainda mais preocupante. A sala onde a Defesa Civil funcionava, nos fundos da prefeitura, estava em péssimas condições. A porta principal tinha sido depredada. Sobre a única mesa que havia, pedaços de madeira e de cortina. Papéis rasgados, incluindo um mapa do município, estavam jogados no chão. Nem mesmo um computador sobrou. Até as divisórias da sala foram retiradas e estavam encostadas nos fundos do local. No depósito, remédios com data de validade vencido e muita sujeira.


Como em 2008, as primeiras semanas foram, literalmente, dedicadas à reconstrução.




Jornalista: GIOVANA PIETRZACKA | Foto: Gilmar de Souza


Publicado por Raciel Gonçalves Junior em 26 janeiro 2013, Rede Social Arca de Noé: 



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