Conheça a trajetória da agricultora que perdeu 14 familiares na tragédia
de novembro de 2008 e hoje coordena a Defesa Civil de Ilhota.
Com os braços apertados em torno da filha Maria Isabel, de
apenas um ano, que dormia em seu colo um sono tranqüilo, a agricultura Tatiana
Reichert temia o pior naquela madrugada de 24 de novembro de 2008. Moradora do
Braço do Baú, em Ilhota, epicentro da maior tragédia climática do Vale do
Itajaí, onde morreram 47 pessoas, ela tinha pouca esperança de amanhecer viva.
A chuva não parava. Ao redor da casa, lama e pedra desciam do morro, tornando
impossível sair. Não tinha noção do que estava acontecendo, sabia apenas que
chovia muito.
Ela e a menina sobreviveram. Daquela noite e das outras 75 em
que teve que dormir fora de casa, ficou a dor e a lembrança. Ao resgatar na
memória o que passou Tatiana não consegue conter o choro: ela perdeu 14
familiares, entre eles, a mãe e a irmã. Precisou ser forte para tornar-se uma
líder dentro da família e amparar a todos. A mesma força que a tornou líder
comunitária, passando a representar as angústias e demandas dos cerca de 3 mil
moradores do Complexo do Baú. Mas desafio maior Tatiana assumiu há cerca de um
mês, ao ser nomeada coordenadora da Defesa Civil de Ilhota.
Embora tenha apenas o Ensino Médio e sem qualquer formação na
área, ela pretende levar sua experiência de vida ao Executivo e mostrar o que
pode ser feito para mudar a situação das pessoas em momentos de dor e perdas.
– Eu estive do outro lado, sei a angústia. Sei que, naquele
momento, em 2008, faltou parceria entre poder público e comunidade – disse,
para justificar porque aceitou o convite.
Antes de assumir o cargo, em 2009, quando presidiu a
Associação dos Desabrigados e Atingidos da Região dos Baús (Adarb), ela já
conhecia as deficiências da Defesa Civil do município. No período de transição
de governo, Tatiana comprovou o que já sabia.
– Em novembro de 2008, tive que começar a vida praticamente
do zero. E é assim que comecei na Defesa Civil – conta a coordenadora,
referindo-se à precariedade do órgão.
Desde que foi criada, em março de 2010, a Defesa Civil de
Ilhota carece de investimento. Mas a situação que Tatiana encontrou ao tomar
posse foi ainda mais preocupante. A sala onde a Defesa Civil funcionava, nos
fundos da prefeitura, estava em péssimas condições. A porta principal tinha
sido depredada. Sobre a única mesa que havia, pedaços de madeira e de cortina.
Papéis rasgados, incluindo um mapa do município, estavam jogados no chão. Nem
mesmo um computador sobrou. Até as divisórias da sala foram retiradas e estavam
encostadas nos fundos do local. No depósito, remédios com data de validade
vencido e muita sujeira.
Como em 2008, as primeiras semanas foram, literalmente,
dedicadas à reconstrução.
Publicado
por Raciel Gonçalves Junior em 26
janeiro 2013, Rede Social Arca de Noé:
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