segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

CONSIDERAÇÕES A CERCA DO FENÔMENO “CABEÇA D’ÁGUA”


por Jesus Carlos Coutinho Barcia e Jorge Soares Marques






Com certa frequência, nos meses de verão, temos conhecimento de casos em que pessoas,nas margens de rios e riachos, que provem de cursos d’água com cabeceira em áreas de encostas de altos declives, são colhidas de surpresa por enxurradas inesperadas, vindo a morrer em conseqüência desse fato. Este fenômeno é conhecido pelo nome de “cabeça d’água”.Em diferentes setores da Serra do Mar este fenômeno ocorre, fato que é atestado inclusive pela existência na região de inúmeros rios identificados pelo nome de “Roncadores”, em alusão ao barulho emitido pelo deslocamento violente de grandes volumes de água.

Este fenômeno pode ocorrer em qualquer bacia de drenagem, quer ela esteja em suas condições naturais quer ela possua alterações provocadas pela ocupação humana. A ação da ocupação humana em bacias de drenagem, via de regra, tende a intensificar a grandeza desses fenômenos ou até mesmo faze-los aparecer em áreas em que antes não existiam. Esta ação interfere principalmente na forma, no volume e na intensidade do escoamento das águas.

A Serra dos Órgãos, no Estado do Rio de Janeiro, constitui-se num desses setores da Serrado Mar, bastante predisposto à presença deste tipo de evento, cuja ocorrência, em diferentes intensidades, já foi detectada diversas vezes. Além do potencial inerente as suas características naturais, somam-se a ele diversas condições favoráveis produzidas pela crescente ocupação humana, capazes de deflagrar a ocorrência deste fenômeno.

O objetivo principal deste trabalho é o de criar uma fonte acessível de informações pertinentes ao fenômeno “cabeça d’água”, que possa com sua divulgação contribuir para alertar,criar atitudes e ações preventivas.Em áreas de riscos ambientais é comum desenvolverem-se conhecimentos e ações, de caráter intuitivo, que previnam ou minimizem conseqüências. Isto se aplica de forma ampla às populações locais que convivem com essas situações. As pessoas que buscam chegar a essas áreas à procura, por exemplo, de lazer, quase sempre desconhecem a existências de riscos, o que as transforma potencialmente nas principais vítimas.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO FENÔMENO

O fenômeno ocorre quando uma chuva localizada, de grande intensidade, projeta-se sobre uma bacia de drenagem e nela existam condições favoráveis ao rápido escoamento superficial,fazendo com que as águas concentrem-se em pouco tempo nos canais fluviais.Os declives elevados nas paredes dos vales adjacentes aos canais fluviais podem ser considerados como os principais responsáveis pelo escoamento rápido das águas. 

Entretanto,outras condições direta ou indiretamente podem agir, de forma ativa ou passiva, para intensificar o processo. A presença de todas as condições favoráveis, dentro de uma mesma bacia de drenagem, pode fazer com que haja ali maior freqüência de ocorrência do fenômeno ou até mesmo fazê-lo assumir uma grandeza catastrófica. 

Além do declive podem ser enumeradas, entre outras, as seguintes condições que favorecem o processo de escoamento superficial das águas pluviais: 

  • A presença de afloramentos rochosos que funcionam como superfícies impermeáveis; 
  • Ocorrência de solos pouco permeáveis;presença de controles de estrutura geológica na rede de drenagem; 
  • Fortes amplitudes de relevo;
  • Presença de colúvios com diferentes graus de permeabilidade;
  • A forma da bacia de drenagem e o próprio arranjo da rede de canais principais;
  • As relações de equilíbrio entre as formas do relevo e os processos geomorfológicos atuais; 
  • O nível de saturação de água do solo em função de chuvas antecedentes; 
  • O rápido empapamento da superfície do solo, no momento de uma chuva intensa,que inviabilize uma maior infiltração; 
  • A impermeabilização do solo pelas construções de valas e galerias pluviais que redirecionem e concentrem o escoamento pluvial; 
  • A presença de obstáculos,naturais ou não, que represem águas; 
  • Descontinuidades nos valores dos gradientes dos canais de drenagem e as suas próprias formas. 



Imagem: Cabeça d'agua em uma cachoeira no sul da Índia

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